sexta-feira, 6 de novembro de 2015

ode/ódio

odeio ter ficado por tanto tempo monossilábica, odeio ter sumido assim, principalmente porque você sabia o porquê. 

odeio como, embora você tenha dito que não, cada linha que você me escreveu equivale a mil das que eu te escrevi. 

odeio o óbvio: você ter odiado aquilo tudo. 

odeio ter sido uma boba, perdidamente apaixonada, ocupando minha cabeça durante muito tempo com alguém que não era você. 

odeio ter dito isso, quando deveria ter ficado calada, quando deveria ter continuado: como éramos. mas eu não podia. 

odeio, por querer essa idiotice inútil de ser confiável, ter deixado de ficar com você. eu não deveria. 

odeio ter achado que minhas vontades de primeiras e ultimas sensações dos dias e da vida inteira eram outras, que não você. eu estava enganada. 

odeio ter me deixado levar  pelas palavras doces de um charles bukowski. 

para ser sincera, nunca consegui porcaria nenhuma daquilo que você talvez quisesse, ou daquilo que talvez não quisesse mais. 

{odeio - problema: - não ter compreendido (nem tarde nem mal) que o que eu consegui e o que talvez você quisesse, era que nos afastássemos de uma vez. e o que você "(talvez não quisesse mais)" era que nos afastássemos de uma vez. 

pode ser que o que você quisesse era se livrar daquele "por um triz que não", e, então, efetivasse um sim. quem sabe? 

[odeio, na verdade, nunca ter conseguido interpretar esse "(você conseguiu o que talvez eu não quisesse mais)". eu consegui me livrar de você. você não queria mais se livrar de mim?] quem sabe?}

odeio e amaldiçoo eternamente os dez minutos que você dispendeu para me escrever aquele e-mail. odeio ler sempre antes de send, porque ler antes de send significa nunca responder coisa alguma. 

odeio ter te conhecido naquelas circunstâncias e por causa disso a gente ter se acostumado a viver às escondidas. 

odeio não poder mudar isso e nem me importar que não possa.

odeio ter voltado a escrever para você, mesmo que você não leia uma linha. 

odeio saber que posso arranjar problemas, e posso colocar tudo a perder por sua causa, de novo, pela milionésima vez, sem peso na consciência. 

odeio ter certeza de que você não é capaz de me dizer não, que o controle não está na sua mão, e pode ser que esteja na minha, mas eu não quero me controlar. 

odeio saber que isso nunca vai ter fim e que, embora ciente do infinito, não poderei jamais planejar nada para nós, porque você é meu incerto, você é meu jogo de dados. 

te deixei pra trás e fui direto. no final, dei de cara com uma parede de tijolos.

e agora, anos depois, sabemos, estou a esmurrá-los.

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

amor e amor

não acredito em amor. acredito em "gostar de estar com".
não acredito em amor romântico, acredito no amor genuíno. aquele amor de amigo, de  filho, de irmão, de mãe, de avós. amor de empatia pelo outro.
amor romântico é egoísta. até mesmo o "gostar de estar com" é egoísta.
amor romântico é semelhante à caridade: você dá ou esperando uma recompensa ou reconhecimento, você dá porque quer se sentir bem, quer se sentir bom. o outro, pouco importa.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

flawless*

não é incomum que eu respire fundo e engula seco com a opinião política de alguns amigos. hoje não foi diferente.

estava na faculdade, no pátio fumando com alguns perdidos quando, conversa vai, conversa vem, rolou um vídeo de uma moça, que foi pega no motel com outro, pelo marido. no vídeo, ela aparece alcoolizada, completamente nua. o marido filma enquanto xinga, e impede que ela, nas parcas forças, e em meio a safanões, se cubra. 

não vou bater palmas para a atitude da moça. tampouco vou julgá-la. simplesmente porque não sei quais motivos a levaram até ali. mas posso julgar a ele, o homem, que abusando de sua condição de """""ofendido""""" (aspas eternas), expôs a mulher daquela forma. 

primeiro: adultério não é crime, exposição da intimidade e lesão corporal, sim. 

segundo, se fosse o inverso, seria igualmente a mulher a vagabunda. imagine, numa situação hipotética, que fosse uma mulher a ir atrás do marido no motel: vagabunda a que está dando pro marido da coitada. barraqueira a que foi atrás do marido - pobre marido - embriagado que estava a dar uma pulada de cerca. 

em ambas as situações, o homem está sempre imune. sempre os pejorativos são direcionados às mulheres. por que ninguém comentou do cara que estava com ela? por que não foi questionado por estar com uma mulher casada no motel? 

terceiro: o que leva uma mulher a """"""trair"""""" (aspas eternas again) o marido? será que uma pessoa que reagiu daquela forma naquela situação era uma boa pessoa em casa? 

já parou para analisar, também, que as mulheres, por serem condicionadas desde crianças a esperarem unica e exclusivamente pelo casamento, foram/são/serão sempre economicamente dependentes dos maridos? que é muito mais cômodo para um homem se separar, principalmente com filhos, do que para uma mulher? que ela pode ter ido buscar paixão e diversão às escondidas exatamente porque tinha filhas para cuidar? 

são todas pequenas questões que orbitam o machismo. somos vagabundas, vadias, putas se, deus os livre!, temos um pingo de liberdade sexual. somos mal comidas, frígidas, mal amadas se, opostamente, nos escondemos e nos prendemos nas correntes da moral. 

chega de mulheres nas fogueiras, plis.

We teach girls that they cannot be sexual beings
In the way that boys are
Feminist - the person who believes in the social
Political, and economic equality of the sexes
*sim, é a bey.

domingo, 18 de maio de 2014

:O

hoje à tarde sonhei. 

sempre observei que os sonhos mais nítidos - pelo menos os meus - estão relacionados à quantidade de comida ingerida antes de dormir. quando como bastante, durmo pesado, sonho muito. quando como coisas leves antes de dormir, não sonho nada. como vivo a neura da magreza, quase nunca sonho, porque quase nunca como muito. mas hoje, depois de uns seis meses desejando uma coxinha e me negando pura e simplesmente por causa do peso, resolvi comer. mais, depois da minha tão almejada coxinha, almocei. 

parece não muito extravagante o fato de ter almoçado. é o que as pessoas normais fazem, todos os dias, por volta das 12h. mas eu, nessa minha obsessão com medidas, passo, às vezes, semanas sem ver um arroz com feijão. pois bem, hoje almocei. e depois de comer satisfatoriamente como há muito não fazia, fui deitar. dormir, sabe? depois de uma noite insone, onde às 3h da madrugada estava a tomar um hipnótico após muito revirar na cama, e acordar super cedo para ir ao dentista, não consegui manter as pálpebras separadas por muito tempo.

e, como dizia no começo, sonhei. 

era claro, nítido, quase real. e era com a eni. 

no sonho, como previsto, ou melhor, como eu esperava que seria se fosse possível, fiquei feliz em vê-la. eu sabia, até mesmo no meu sonho, que um dia ela ia aparecer. me empolguei com sua presença, fiquei agitada, me animei. mas ela não estava do mesmo jeito. ela parecia nervosa, irritada, fumava muito e estava despenteada. perguntei se não estava bem, ela disse que não. perguntei se havia se arrependido, ao que respondeu com um "o que você acha?" carregado de ironia.

em seguida, no sonho ainda, claro, ela me trancou num pequeno quarto, uma dispensa, talvez, onde havia uma janelinha em que eu conseguia vê-la, conseguia ver o que fazia do lado de fora. para minha surpresa - e medo - eni cavava o que eu, no meu onisciente de ideias e imagens do sono, sabia ser uma cova. e era pra mim. 

lá, enquanto olhava para as pazadas de terra que eram jogadas para trás, tentava adivinhar o porquê dela querer me enterrar: queria que fosse para junto dela? queria que eu sentisse o que ela estava sentindo? queria, com mágoa, quem sabe, me fazer pagar por minha parcela de culpa negligente em sua morte? mas eu não conseguia reagir. não conseguia nem ao menos tentar afastar o obstáculo que fechava a saída. eu apenas olhava e esperava pacificamente.

acordei assustada e aliviada por ser apenas um sonho. mas tão logo abri os olhos, fechei novamente e voltei a sonhar.

mesmo 
sonho.

agora estávamos ela e eu numa mesa, sentadas de frente, e conversávamos. exatamente com fizemos em casa quando ela esteve aqui. sabia que não era o mesmo lugar, não era aqui, e eu não conseguia ver o que tinha à volta, mas ao olhar para o chão embaixo dos meus pés, vi que parecia de vidro. e abaixo da transparência eu podia ver uma fenda na terra que começava numa areia bem clara e acabava em escuridão completa. ela continuava aborrecida.

me lembro vagamente de tentar convencê-la a não me mandar lá pra baixo e, no instante seguinte, com um semblante furioso, seus cabelos começaram a clarear e  a pele a se desfazer diante dos meus olhos. acordei de salto novamente, mais assustada do que antes, com aquela agonia do despertar de um pesadelo. mas... ao mesmo tempo, de certo modo confortada porque, por estranho que pareça, pude trocar algumas palavras com ela.

já se vão quase dois meses e parece que ainda não consigo lidar. preciso tentar administrar. PRECISO.

terça-feira, 13 de maio de 2014

stand by him

"This chapel of ritual 
Smells of dead human sacrifices 
From the altar bed 
On this night of ritual 
Invoking our master 
To procreate the unholy bastard"

ouvi durante toda a noite, em sonho, aquele refrãozinho que nem sabia de que música era. acordei obcecada. fui procurar a música. ouvi o dia todo. era ghost b.c. e, não só pela melodia, porque mais suave e sedutora não poderia ser, mas também - e principalmente - pelas letras, fiquei excitada. me dessem um vinho e umas giletes, me cortaria toda e transaria banhada em sangue depois. satanicamente excitada. esse tipo de música exerce uma força sobre mim que... uau!

"It is the night of the witch 
It is the night of the witch tonight 
And the vengeance is hers for as long as she stands by him"

e por que o refrãozinho se repetia na minha cabeça durante a noite? segredos da vodca. nem sei.

sábado, 19 de abril de 2014

n

o que eu te disse...:

you can run into my arms
it's okay, don't be alarmed
come into me (there's no distance in between our love)
so gonna let the rain pour I'll be all you need and more
because... when the sun shines, we'll shine together
told you I'll be here forever
said I'll always be your friend
took an oath I'mma stick it out 'till the end
now that it's raining more than ever
know that we'll still have each other
you can stand under my umbrella.

(lembra dessa música que você postou naquele blog velho uma vez e que eu comentei que havia ficado arrepiada, porque quando ouvia pensava em você... pois então)

o que faltou te dizer...:

bubbles were made to burst 
fires were meant to burn 
and when the flame dies down the coals will leave you warmer 
and if it decides to rain 
annie on your parade 
remember summer’s always comin’ around the corner 
and lookin’ back on who you were 
I bet you’d say to her 
these things happen for a reason 
and you’ve got the world in your hands 
don’t cry just realize you burn bright when you aim for the sun 
annie get your gun

(quando ouço essa música, que soa como seu nome, penso em como você tinha o mundo em suas mãos, e quando leio "annie get your gun", queria que fosse para lutar, não para desistir)

descobri a audra mae num dia de faxina aqui em casa, logo depois que você esteve aqui. descobri no dia em que -tenho quase certeza- perdi o ultimo bilhete que você me escreveu. no meio daquela papelada que descartei quando fui colocar tudo no lugar depois da pintura, depois de colocar no lugar as coisas no guarda-roupas que você ajudou a montar. ainda tenho alguma esperança de encontrá-lo dentro de algum livro que talvez tenha folheado e não tenha visto, mas pouca, acho que perdi seu ultimo bilhete direcionado a mim.

inda depois fui ver que ela, a moça que canta, fez o cover do bob dylan para a abertura do sons of anarchy, aquela série que você me indicou. ia ser tão, mas tão legal se a gente pudesse falar sobre isso tudo, trocar essas informações por e-mail... mas não dá mais. não tenho, nunca vou ter outra oportunidade de te escrever, de dizer todas as coisas que penso em te contar durante o dia. e, caralho, hoje faz um mês desde aquela quarta que a gente saiu e chegou tarde em casa. que a gente sentou na calçada e ficou conversando sobre a vida...

não dá para acreditar ainda que não tive tempo de te pedir para ficar um pouco mais. não aqui em casa, mas aqui nessa vida. você merecia ficar.

eu tenho tanta coisa pra te contar :'(

sexta-feira, 4 de abril de 2014

sete dias

...

no dia 14 de março postei uns versos do bukowski. no dia 15, de surpresa, ela apareceu aqui na minha casa. infelizmente, 15 dias após, quando voltei a publicar, foi para falar sobre a morte dela.

fico ligando os pontos de qualquer coisa relacionada a sua morte. desde a possibilidade de ela já ter vindo com essa ideia, de ter sido tudo premeditado, até a coincidência da escolha do dia, quando usei emprestado um rímel ultrapotente que me fez chorar lágrimas pretas como quando nos conhecemos e ela disse que era a coisa mais linda que já tinha visto.

fico refazendo suas últimas horas na minha cabeça. imaginando que tenha se banhado, se perfumado, as unhas do pé, certamente pintou de vermelho, em seguida fez uma bela maquiagem. escolheu a melhor roupa, passou os longos cabelos por sobre o nó da corda e saltou, resignada, em direção ao fim.

fico conjecturando sobre seu último pensamento. se esperou que alguém aparecesse e a  salvasse. se se frustrou por achar que não faria falta a ninguém. se, determinada e inebriada pelo ódio a essa vida, disse, forte, a si mesma enquanto agonizava a falta de fôlego "é minha última dor. depois disso, não sofro mais"

não consigo evitar esses pensamentos mórbidos. e preciso colocá-los todos aqui para ver se me abandonam. quero lembrar dela com a serenidade que me passava nas cartas e e-mails e nos abraços e na vozinha com sotaque do sul.