sábado, 28 de dezembro de 2013

fragilidade

é engraçado como a morte... não. engraçado não é o melhor termo. é estranho como a morte, sendo a única certeza que temos na vida, consegue, mesmo assim, nos surpreender em absolutamente todas as vezes que atravessa nosso caminho.

você ouve o som da morte o tempo todo. alguém morreu, lá, no oriente médio. um acidente de ônibus, uma enchente, um atentado a bomba. e parece, o tempo todo, tão normal, tão natural. você sabe que é corriqueiro, que todos os dias nascem e morrem milhares, milhões de pessoas. é o ciclo da vida. mas de repente, um conhecido seu, uma pessoa da família, e você está em choque. já não parece tão comum assim.

se a gente não está preparado sequer para lidar com o fim da vida dos velhos, como podemos lidar com o fim daqueles que estão na meia idade, na juventude? pior: se nos custa defrontar com a chegada da morte tranquila, instantânea e indolor, como encará-la sob a forma de tortura? como podemos suportar a ideia de um ser humano que carrega a morte nas entranhas? que está com ela, ali, dentro do corpo?

bem que dizem que o câncer não se limita apenas ao enfermo. é uma doença que se estende para a família, para os amigos. ouvir a sentença de que aquela pessoa, não importa o que faça, o quanto lute, não tem chances de sobreviver. sorrir com esperança para alguém que se sabe, não voltará a levantar, minha nossa, a sentença que ele mesmo não sabe, como é terrível!

não somos deus. não temos deus. a vida, a alma, o fôlego, tudo isso uma hora acaba. não podemos fazer nada. não há tempo para inventar uma divindade e fingir que num outro plano nos encontraremos. era para ter acontecido tudo aqui. e, se era para ser e não foi, quer dizer que, entre tantas coisas que guardaremos, o arrependimento será uma delas.

mas as coisas são deste jeito: nunca teremos tempo suficiente para viver tudo que deveríamos com aqueles que amamos - ou mesmo com aqueles que simplesmente passam por nossas vidas. podemos aproveitar o máximo, no entanto, invariavelmente, faltará aquela palavra, aquele gesto, aquele abraço. 

o que sobra é o vazio e a incompletude.

não somos inteiros. não somos nada.

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