segunda-feira, 10 de março de 2014

tudo que vicia começa com c

(c de chemical)

escrevo porque quando estou perto de você, das duas, uma: ou a timidez da sobriedade não me permite falar nada (o que prefiro), ou a embriaguez me faz entornar um caminhão de besteiras (do que depois me arrependo). escrever é a maneira de falar tudo o que quero parecendo menos idiota. quer dizer, menos idiota em termos. depois que te encontrei SÓ consigo me sentir idiota. 

me sinto besta. gosto de esperar para te ver. gosto de lembrar do seu cheiro, de me sentir apaixonada. essa ansiedade é melhor do que onda de crack - não que eu já tenha experimentado crack, mas segundo um estudo de psicologia sobre drogas, a onda intensa do crack, a sensação perfeita, o (ainda não) viciado só sente na primeira vez que usa. depois ele passa a se drogar para tentar sentir de novo aquela primeira. 

imagino que, para ele, o (agora sim) adicto, a expectativa de sentir aquilo outra vez deve ser bem melhor do que usar outra pedra. mas cada vez que ele usa e se frustra, ele zera a expectativa, e começa a buscar de novo. ainda no estudo, a autora faz um paralelo entre essa "onda perfeita do crack" e amor. ela diz que a gente não repete sentimentos, mas a gente fica na busca, e nunca mais encontra.

se ela está certa sobre não repetir sentimentos, não faço a menor ideia. mas acho que ela se equivocou na comparação: o que mais se aproxima do amor como droga é a fissura de ter outra vez, de consumir. essa agitação de ânimo, o desejo apaixonado, esse anseio de estar. e é isso que você é para mim. e esse é um hábito inveterado do qual não quero me curar. 

porque você é minha droga: era um delírio intenso no começo; me ajudou na depressão quando estive na pior; foi minha piração mais insana (redundância, sim ou claro?) depois de um tempo de abstinência, e agora mantenho o vício comedido, em quantidades capazes de satisfazer sem degradar.

nem sei se você sente o mesmo por mim. isso não importa muito. claro que prefiro pensar que sim. claro que me fio nas palavras que você me diz, que não poderiam ser diferentes do que são. claro que dou muito mais atenção aos carinhos que você me direciona do que ao que eu conheço de você e do que sei que é capaz para agradar ao próprio ego - o malefício consciente: você sabe que faz mal, mas quer continuar. se pensar nesse outro lado também, foda-se. eu satisfaço seu ego e você satisfaz minha necessidade de estar apaixonada.

onde isso tudo vai parar? quem sabe? a verdade é que não quero que pare nunca. depois de tudo que aconteceu, desaconteceu e não-aconteceu com a gente, continuo irremediavelmente hipnotizada, fascinada, quimicamente dependente do que sinto por você e não quero que isso acabe. não quero, de jeito nenhum, me livrar.

*a ideia surgiu a partir desse texto do luiz fernando veríssimo, de onde o título foi descaradamente roubado.
*precisei espremer o cérebro para escrever essas linhas. tô mal mesmo de escrita. =/

4 comentários:

  1. É verdade. Acho que a onda mais gostosa é a onda da paixão: aquele frio na barriga, o pensamento longe... a expectativa de um telefonema e quando ele liga (meu deus!) o mundo para. Belo texto, você escreve muito bem.

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    1. sim. essa onda só é boa quando tem retorno. caso contrário, só degradação mesmo.

      obrigada pela visita e pelo elogio. faz bem para quem escreve (ou para quem tenta escrever). vem como incentivo.

      seu blog também é excelente. já visitei algumas vezes. prometo comentar com mais frequência. :)

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  2. Como diz Bezerra da Silva, o C de:
    cachimbo, café, cachaça
    cadarço, cordão, corrente

    Amiga, hoje eu te li e me identifiquei muito! Você descreveu exatamente o que estou sentindo.
    Estamos em sintonia. <3
    O meu amor eu comparo à barato de pó. Só que ando curtindo a vibe da depressão pós droga. tá foda a abstinência. :(

    Nega, amo você.

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  3. volta pra mim, amiga...

    como vai ser agora sem você? o que eu vou fazer???

    :(

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