segunda-feira, 17 de junho de 2013

Sobre os protestos no Brasil - e mundo - afora.


busco pautar minha opinião nos discursos mais comedidos e menos apaixonados - talvez esteja ficando velha. é preciso, antes de mais nada, entender o que está acontecendo.

muita gente não sabe a quê está indo. nem pra onde está indo, como chegar lá ou o que fazer lá. protestos genéricos não levam a lugar algum. é pela tarifação do transporte? ótimo. é pela truculência da polícia? melhor ainda. mas, um objetivo legítimo pode facilmente ser diluído por generalidades.

dia do basta? marcha contra a corrupção? qual o sentido? bem considera o Alex Castro quando diz que "nada pode ser mais vazio e demagógico do que se colocar fortemente em defesa de algo… que ninguém é contra!

de repente o "Brasil acordou", mas calma lá, os ativistas LGBT, as feministas, o movimento negro  sempre estiveram acordados. arrisco dizer, sequer conseguiram algum dia dormir. as minorias sempre estiveram aí, dispostas a lutar - e lutando - inclusive pelos direitos das maiorias.

acordou quem, até ontem, nem sabia o significado de engajamento político.

PAUSA PARA BRECHT:

"Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro

Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário

Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável

Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei

Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo".

as pessoas mostram-se indignadas equivocadamente e isso deixa as coisas meio confusas. tudo bem, há em SP uma insatisfação geral. a qualidade de vida é péssima - imagino, os governos pouco se importam com a população mais pobre e, evidentemente, sempre houve, por parte da classe média, um incentivo à repressão policial (vulgo "sdds ditadura"). a própria imprensa sãopaulina apoiou a ação da PM no primeiro dia de manifesto. os sãopaulinos têm motivos mais do que evidentes para estarem lá. mas e os manifestos que se espalharam Brasil afora? talvez não tanto.

quando é de apoio ao MPL ou repúdio à violência, ok. mas quando põem em pauta as ditas generalidades, acabam mesmo é por descreditar o propósito inicial. essa pauta vaga tende a atrair muitos adeptos "coxistas", que sempre foram contra os movimentos sociais ou nunca aderiram a eles, nem deram o mínimo apoio e que agora querem brincar de revolução.

e o pior de tudo, fez surgir um sentimento que é sempre bom ver com muita cautela: o nacionalismo.

antes de sair aderindo festivamente, em efeito manada, é preciso se perguntar qual fim se objetiva com estes protestos? qual é sua causa? você tinha uma causa antes? você respeita/apóia as que haviam antes? você escolheu alguma a partir de agora? você vai ficar com ela depois que a "febre" passar?

certifique-se de que você não está lutando por um discurso vazio e demagógico. certifique-se de que você não está lutando para que políticos não atropelem criancinhas na faixa de pedestre (chover no molhado. oi?).

e depois, mais do que ir às ruas, fiscalize seus representantes. todos eles tem e-mails públicos. entre em contato, questione, cobre. fique de olho na transparência. interesse-se em saber para onde vai o seu dinheiro. pesquise quais obras públicas estão em execução, quanto está sendo gasto nelas, quem será beneficiado por elas, quem será prejudicado. existe mais um milhão de coisas que se pode fazer "em manifesto" que podem ser tão ou mais úteis.

se você não se posicionar, não levantar uma bandeira, a imprensa poderá te colocar na conta que ela quiser.

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